
“O principal desafio é garantir que a escola não replica assimetrias”
Coautor do livro Conhecimentos vs. Competências – Uma dicotomia disparatada na educação, João Costa defendeu ontem, dia 18 de Outubro, que as escolas devem elevar socialmente os mais pobres e assegurou que estes alunos, quando têm as mesmas condições, conseguem ir mais longe. A garantia foi dada perante uma plateia de professores, durante uma tertúlia na Escola Josefa de Óbidos, no âmbito do FOLIO Educa.
“O principal desafio é a equidade, é garantir que a escola não replica assimetrias”, sublinhou João Costa, especialista em linguística e também Secretário de Estado Adjunto e da Educação. “Não há pessoas condenadas a caminhos alternativos, a caminhos menores. O País só se desenvolve se apostar na qualificação e na educação permanente”, acrescentou João Couvaneiro, especialista em História e coautor de Conhecimentos vs. Competências, obra escrita para demonstrar que ambos são importantes.
João Couvaneiro considerou que se não se promover a inclusão não se promove a educação, e esclareceu que não se estava a referir apenas a crianças e a jovens deficientes, nem provenientes de contextos deprimidos. “Todos somos diferentes e todos temos de fazer parte”, afirmou. Lamentou, por isso, que a avaliação incida mais sobre o conhecimento, e menos na competência, o que “faria com que a escola fosse mais justa e mais inclusiva”.
Competências socioemocionais
Três anos depois de os dois autores terem escrito o livro, um dos professores da Escola Josefa de Óbidos quis saber se se mantém atual e sobre o que escreveriam hoje. João Couvaneiro identificou a necessidade de trabalhar as competências socioemocionais, as atitudes e os valores dos alunos, face às fragilidades reveladas durante a pandemia, para garantir a equidade. “A empatia, o respeito pelo outro, e dimensões e atitudes, como a resiliência, a par do conhecimento e das competências são essenciais”, sublinhou. “Somos muito mais do que mão de obra para o mercado, somos humanos.”
João Costa também reconheceu que as competências socioemocionais ganharam mais relevância. “O equilíbrio socioemocional é um objetivo da aprendizagem, assim como a capacidade para fazer escolhas, trabalhar com os outros e encontrar resiliência perante a adversidade. Este conceito de felicidade é muito importante”, referiu o especialista em linguística. “A escola tem de preparar para a gestão da frustração. Errar é normal. O erro é uma fonte de aprendizagem, e não de mera avaliação, ao dizer: não foste capaz.”
A importância da disciplina de Cidadania foi, por isso, considerada fundamental pelos dois autores. “A Cidadania pode ser o expoente máximo dos conhecimentos e das competências na educação, ao permitir ser um cidadão capaz de fazer escolhas com liberdade”, afirmou João Costa, voltando a sublinhar a importância de incluir todos. “Como os grupos excluídos não se sentem parte, não sentem que tenham de contribuir. A escola pode capacitar para uma coisa diferente”, garantiu. “A Cidadania absolutamente central para a longevidade da nossa democracia”, acrescentou João Couvaneiro.
Informações em obidos.pt e foliofestival.com