Luísa Sobral apresentou em Óbidos o seu primeiro romance

A autora Luísa Sobral esteve em Óbidos, no passado dia 19 de abril, na Casa José Saramago – Biblioteca Municipal, para uma conversa sobre o livro “Nem Todas as Árvores Morrem de Pé”, o seu primeiro romance.

A obra, que marca a estreia da cantora e compositora na ficção literária após uma carreira consolidada na música e na literatura infantojuvenil, tem somado elogios pela sua estrutura inovadora e pela profundidade emocional dos personagens.

“Sempre que fazemos alguma coisa, fazemos para o público e esperamos que corra bem. Agora, esperar que chegue à 6ª edição em dois meses, isso é incrível”, disse. “Mas o mais importante de tudo é a forma como as pessoas recebem o livro. “A escrita é muito solitária, ao contrário da música, que é partilhada. Mas na música eu não falo com o público sobre as minhas canções e essa parte está a ser muito interessante”, revelou. “A partilha é muito mais próxima. Saber o que as pessoas pensam sobre o livro, sobre os personagens… É muito especial para mim”.

Numa conversa descontraída, Luísa Sobral falou sobre a história do livro, o processo de escrita, e sobre o momento de abandono e de regresso à obra.

“Quando comecei a escrever, ‘saíram’ logo 10 páginas. Mas em cada página que escrevia, senti que tinha de fazer o ‘polígrafo’ de tudo por causa do contexto histórico. Foi uma frustração. Parei um ano. Nessa altura, participei num podcast em que disse que estava a escrever. E fui revisitar o que tinha escrito. Foi então que decidi pegar-lhe de outra maneira. Fui pesquisar primeiro. Foi doloroso. Nunca tinha passado tanto tempo com os meus personagens”, recordou.

“Foi um processo duro, mas percebi o quão transformador foi, tendo-me ensinado a ser uma escritora muito melhor”.

A sessão com a autora em Óbidos fez parte do projeto “Leituras a Oeste”, uma iniciativa que celebra o livro, durante o mês de abril, e que envolve as bibliotecas da região.

Sobre a obra

O livro “Nem Todas as Árvores Morrem de Pé” foi lançado em fevereiro de 2025 pela editora Dom Quixote.

A história centra-se em duas mulheres, Emmi e M., cujas vidas se cruzam através da desilusão e dos 50 anos mais tristes da história da Alemanha. Emmi, nascida pouco antes da ascensão de Hitler ao poder, perde o pai na guerra e enfrenta uma adolescência difícil. Após casar-se com Markus, um homem de Berlim Leste, muda-se para a República Democrática Alemã (RDA), onde a construção do Muro de Berlim e uma carta anónima a afundam numa profunda depressão. M., nascida após a divisão, é educada por uma ama apaixonada por plantas, desconhecendo o mundo ocidental até ouvir o testemunho de uma rapariga que muda a sua vida.

A narrativa é construída com base em duas histórias paralelas, cada uma estruturada de forma original, intercaladas com cartas e frases poéticas que ligam o romance à música, refletindo a experiência musical da própria autora. A obra, que Luísa Sobral dedica à sua mãe, explora ainda temas como a maternidade, o cuidado e a relação com a natureza, simbolizada através das plantas que marcam as diferentes fases da vida dos seus personagens.

Luísa Sobral revelou ainda que a inspiração para o livro surgiu de uma notícia sobre um casal alemão residente em Portugal, levando-a a compor a canção “Maria Feliz”, que teve a oportunidade de interpretar no dia da apresentação do livro em Óbidos.

A história, que parecia continuar a viver nela, evoluiu para um romance, com a autora a afirmar que os personagens “não queriam ser só canção, depois não queriam ser peça de teatro, quiseram ser romance”.

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