
Luaty Beirão, em Óbidos, fala sobre liberdade
Óbidos celebrou, no passado domingo, 11 de dezembro, o primeiro aniversário da classificação como Cidade Criativa da Literatura, pela UNESCO, com uma conferência sobre Liberdade de Expressão, com a presença do ativista angolano, Luaty Beirão. Uma conversa que teve como ponto de partida os testemunhos feitos por alguns alunos das escolas d’Óbidos sobre esta temática.
Na apresentação desta iniciativa, a vereadora com os pelouros da Educação e da Cultura, explicou que “faz hoje um ano que tínhamos os sorrisos mais genuínos nos nossos rostos, quando recebemos a notícia da atribuição do galardão, pela UNESCO, de Óbidos como Cidade Criativa da Literatura”. Celeste Afonso disse mesmo que “esta é ‘A’ classificação”, que veio “certificar o caminho que estávamos a fazer, de transformar Óbidos numa Vila Literária”. “A classificação trouxe-nos o reconhecimento internacional, mas também a afirmação local”, sublinha a autarca, acrescentando que “é bom ver as nossas gentes a acreditar no nosso projeto”.
Em relação à conversa com Luaty Beirão, Celeste Afonso afirma que a missão da Óbidos Vila Literária e do projeto educativo de Óbidos “é afirmar a liberdade de expressão e, por isso, quisemos ter, neste primeiro aniversário, o Luaty Beirão”. “Queremos que as nossas crianças tenham essa consciência e queremos cidadãos conscientes e empenhados”, sublinhou.
Partindo das perguntas “A Liberdade é…”, “Sou livre quando…” e “Não é liberdade…”, feitas e respondidas pelos alunos de Óbidos, Luaty Beirão fez a sua análise. “Liberdade é uma palavra tão simples e tão complexa ao mesmo tempo”, explicou, garantindo que “a grande discussão está onde estão os seus limites”.
Em relação a Angola, o ativista conta que “a maior parte das pessoas sabe o que eu e os meus 16 companheiros passámos no último ano. Fui privado da minha liberdade física, preso numa cela de 2 metros por três, mas houve um momento em que cheguei a sentir-me mais livre”. E Luaty Beirão explica: “Eu sempre fui um privilegiado, mesmo quando estive preso. Eu sentia que nós estamos a ter um empurrão na nossa luta, que é o de libertar aquela gente das grilhetas do medo. Considero-me tão insignificante como indivíduo e eles criaram a história de que somos muito fortes. Eles é que nos fizeram heróis. Aquilo que eu fiz, foi um ato de cidadania”, concluiu.
Recorde-se que Luaty Beirão está em Portugal para o lançamento do livro “Sou eu mais livre, então” (Tinta-da-China), o diário que escreveu na prisão.
Luaty Beirão nasceu em Luanda, em 1981, e tem nacionalidade angolana e portuguesa. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade de Plymouth, Reino Unido, e em Economia e Gestão pela Universidade de Montpellier, França, destacou‑se pelo seu trabalho enquanto músico. No universo do rap, onde é conhecido por nomes artísticos como Brigadeiro Mata Frakuxz ou Ikonoklasta, já colaborou com os artistas Batida ou Ngonguenha, tendo participado ainda no documentário É Dreda Ser Angolano.
O facto de ser filho de João Beirão, primeiro diretor da Fundação Eduardo dos Santos, não o impediu de se tornar um dos nomes mais conhecidos do atual ativismo político angolano e de ter estado no início do que é conhecido como «Movimento Revu» – movimento cívico de luta pela democracia e liberdade que tem promovido manifestações, encontros e debates, os quais deram origem à sua detenção, a 20 de Junho de 2015.