“O FÓLIO tem sido um espelho daquilo que queremos para o futuro da Cultura”

“O FÓLIO tem sido um espelho daquilo que queremos para o futuro da cultura em Portugal: viva, aberta, participada, capaz de aproximar pessoas e de inspirar transformação”, afirmou a ministra da Cultura, na sessão de inauguração do festival literário, que decorre entre os dias 9 e 19 de outubro, sob o tema “Fronteiras”. Margarida Balseiro Lopes destacou a importância do evento como forma de “celebrar a literatura e a cultura, enquanto espaços de encontro, de liberdade e de criação”.

“Celebrar 10 anos do FÓLIO é reconhecer o poder das ideias e das palavras para aproximar pessoas, para questionar o mundo e para inspirar novas formas de olhar a realidade”, disse a ministra da Cultura. Num tempo em que as fronteiras políticas, culturais ou ideológicas se multiplicam, e em que as diferenças se transformam em motivo de divisão, disse que a cultura se revela como “espaço de partilha, onde todas as vozes têm lugar, e o diálogo continua a ser a base para compreender o mundo”.

Margarida Balseiro Lopes sublinhou que o FÓLIO revelou o poder transformador da cultura, ao revitalizar um território, mobilizar uma comunidade, e criar valor económico, social e educativo. Provou ainda que um festival pode ser uma experiência de pertença, e um exercício coletivo de imaginação, e que a literatura não é um território distante, mas parte integrante do quotidiano de cada cidadão, nas escolas, nas livrarias, nas praças e nas ruas.

Consciente que o futuro da cultura passa por uma “verdadeira descentralização cultural, que reconheça o valor dos territórios e das comunidades como espaços de criação”, a ministra defendeu que promover a cultura é um dever cultural e um compromisso social. “É garantir que cada pessoa, independentemente do lugar onde vive, tem acesso à cultura, ao livro e à possibilidade de criar o seu próprio percurso de descoberta. É combater as assimetrias e afirmar, com clareza, que a cultura não é um privilégio de alguns, mas um direito de todos.”

Cultura não é um luxo

“Em ano de autárquicas, talvez seja bom recordar que a cultura não é um luxo, é uma necessidade pública. A cultura abre portas, e é isso que o FÓLIO nos lembra todos os anos. O FÓLIO é o exemplo perfeito de como a cultura local pode ter eco global”, defendeu Joana Pinho, administradora executiva da Ler Devagar, coorganizadora do evento. “Dez anos depois, este festival continua a atravessar fronteiras: de ideias, de línguas, de culturas, criando espaços de encontro e de diálogo.”

Mas tal só foi possível graças ao homem responsável pela criação do festival literário. “Seria injusto falar nestes 10 anos sem falar do José Pinho. O José imaginou o FÓLIO com a mesma teimosia generosa com que criou a Ler Devagar”, recordou a filha do editor. “Dez anos depois, o festival mantém-se vivo, porque nos empenhamos em provar que as ideias não morrem. Hoje, aqui estamos para continuar a conversa: leitores, autores, livreiros, curiosos”, acrescentou Joana Pinho.

“Não podemos celebrar esta década sem recordar José Pinho, o homem que acreditou que a vila de Óbidos podia ser uma livraria a céu aberto, e que a cultura tinha força para transformar o território”, confirmou Margarida Balseiro Lopes. “A sua visão, feita de coragem, de persistência e de amor aos livros, permanece viva neste festival, em cada leitor que aqui se cria e em cada gesto que mantém viva a paixão pelos livros”, assegurou.

Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos, também manifestou o seu reconhecimento a José Pinho, falecido em 2023, e a todos os que com ele idealizaram o evento, com “visão e coragem”. “A paixão de José Pinho pela cultura e pelos livros permanece viva em cada livraria, em cada leitor, em cada encontro que aqui se renova”, garantiu. “Este FÓLIO, nascido de uma visão ousada e de um profundo amor pelos livros, é hoje uma referência internacional, e uma prova viva de que cultura é uma das mais poderosas formas de unir o que, por vezes, a sociedade separa.”

Pontes derrubam barreiras

“Vivemos tempos de muros visíveis e invisíveis, de desafios globais que exigem diálogo e cultura. O FÓLIO responde a esse desafio com palavras, livros e ideias, propondo pontes onde outros erguem barreiras”, sustentou o autarca. “É por isso que é um espaço de liberdade, de pensamento e de partilha, onde o saber, a arte e a imaginação se encontram para transformar o mundo”, observou. Convicto de que Óbidos Vila Literária transformou o território num “verdadeiro laboratório de cultura viva”, destaca a descentralização e a participação da comunidade educativa e das freguesias. “A cultura só cumpre o seu propósito quando chega a todos.”

Eduarda Marques, vice-presidente da Fundação INATEL, entidade parceira e coorganizadora do FÓLIO, lembrou que as fronteiras que nos separam, também nos podem unir, celebrando a cultura como território de encontros. “E é precisamente esse o papel da cultura: atravessar fronteiras, criar pontes, abrir caminhos”, frisou. “As fronteiras podem ser desafios, mas também são convites para o encontro, para o respeito, para o reconhecimento do outro.”

Empenhada em promover artistas e projetos fora dos circuitos comerciais, a Fundação INATEL apresentou, nos últimos oito anos, mais de 50 artistas e projetos musicais portugueses ou de língua portuguesa, no âmbito da FOLIA. Este ano, o palco INATEL recebe sete concertos: Expresso Transatlântico, Orquestra de Jazz de Leiria, A Cantadeira, Hélder Moutinho, O Gajo, Uxu Kalhus, e a Banda Filarmónica Obidense. “São projetos que representam a tradição, a inovação e a diversidade da nossa cultura”, adiantou Eduarda Marques.

“O FÓLIO é um exemplo do melhor que fazemos quando trabalhamos juntos, entre instituições, artistas, comunidades locais e europeias, em torno de um propósito comum: um compromisso com a promoção da cultura, da literatura, e da cidadania ativa”, disse Sofia Moreira de Sousa, representante da Comissão Europeia em Portugal. “Aqui, a literatura continua a cumprir o seu papel essencial: o de imaginar outros mundos possíveis e de imaginar que, antes de tudo, somos humanos e europeus, partilhando o mesmo planeta.”

Projetos vivos

No ano em que se comemoram 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à União Europeia, então Comunidade Económica Europeia, e os 10 anos do festival literário, Sofia Moreira de Sousa considerou que “tanto a Europa como o FÓLIO são projetos vivos, em constante mutação, feitos com as pessoas e para as pessoas”. “É nesse movimento contínuo de criação, de participação e de diálogo construtivo e de esperança que se renova, todos os dias, o sentido da nossa pertença.”

“Num mundo traçado por tantas linhas – reais, imaginárias, concretas e indefinidas – foco a minha intervenção nas entrelinhas, porque é nas entrelinhas que vive o verdadeiro espírito do FÓLIO”, declarou Pedro Rodrigues, representante da empresa municipal Óbidos Criativa. “Dizem-me que o FÓLIO é muito mais que plateias cheias e apresentações de livros. O FÓLIO é longas conversas, encontros improváveis, discussões saudáveis que terminam com um brinde.”

Com os olhos postos nos próximos 10 anos do festival literário, Pedro Rodrigues vê desafios, abertura para opiniões, ideais e credos diferentes, e a necessidade de atrair jovens para a literatura, para a cultura e para o evento. “O FÓLIO é um lugar sem fronteira, inexorável, porque necessário, porque inadiável, porque profundamente humano”, realçou.

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