Óbidos projeta-se como Laboratório Internacional de Literatura Viva

Óbidos quer afirmar-se internacionalmente como “Laboratório de Literatura Viva”, referência global no desenvolvimento de ecossistemas criativos baseados na palavra, na criação artística e na sustentabilidade cultural. Até 2035, define o Município, no “Plano de Desenvolvimento Estratégico Óbidos Cidade Criativa da Literatura da UNESCO 2025 – 2035” ontem lançado, Óbidos deverá ser reconhecido como um território literário de excelência e de inovação, como um destino internacional de turismo literário sustentável, e identificado como centro de criação, investigação e experimentação artística.

O documento foi apresentado no arranque do programa comemorativo “Óbidos, 10 anos de Cidade Criativa da Literatura da UNESCO”, e antecedeu uma mesa redonda que juntou Joana Pinho, da Ler Devagar, Telmo Faria, da Sociedade Vila Literária, Mafalda Milhões, da livraria “O Bichinho de Conto”, Mia Couto, escritor, Filipe Daniel, presidente do Município de Óbidos, Ricardo Duque, vereador com o pelouro da Cultura na autarquia obidense e responsável pela coordenação política da nova estratégia, e ainda Alberto Santos, secretário de Estado da Cultura, para quem Óbidos é “a prova viva de que a Literatura pode transformar a vida das comunidades”.

“Há datas que apenas marcam o tempo decorrido. E há datas, como a de hoje (11 de dezembro)”, que destacam “a coragem política e visão estratégica”, referiu Alberto Santos, durante a sua intervenção. As comemorações do 10º aniversário da atribuição da chancela são “muito mais do que recordar um momento de reconhecimento internacional”. São reflexo de “um projeto coletivo, que coloca o livro, a criação literária, no centro da educação”, salientou o governante, elogiando Óbidos por ter sabido ver, na Literatura, “um elemento fundamental para o desenvolvimento do território”, e uma “forma de viver e de se projetar no mundo”. “Um laboratório vivo de políticas culturais com impacto público reconhecido”, em diferentes dimensões, afirmou.

Celebrar a identidade de um território

Para Filipe Daniel, presidente da Câmara Municipal de Óbidos, o título UNESCO “transforma a data numa página maior da história” do concelho. “Uma página que não se escreveu sozinha. Escreveu-se com a mão firme da comunidade, com o talento dos nossos autores, com a criatividade dos nossos agentes culturais, com a visão dos nossos parceiros e, sobretudo, com a força das pessoas que fazem de Óbidos muito mais do que um território. Fazem desta vila uma narrativa viva”.

“Quando, em 2015, recebemos esta distinção, o mundo passou a olhar para Óbidos como um lugar onde os livros não se guardam apenas em prateleiras”, mas que “vivem nas ruas, ocupam igrejas, reinventam mercados, inspiram espaços e convocam encontros”. Uma história que “começou em 2011, quando a Vila Literária surgiu como um gesto audaz de regeneração urbana, cultural e económica”, recordou.

Ao integrar a rede das Cidades Criativas da Literatura da UNESCO, “recebemos muito mais do que prestígio”. “Recebemos responsabilidade. Uma responsabilidade que vivemos diariamente, desde os nossos festivais internacionais, como o FÓLIO e o Latitudes, até aos nossos programas educativos, às residências literárias, às oficinas que hoje fazem parte do quotidiano das nossas escolas e do crescimento cultural das nossas crianças”. “Cabe agora ao Município garantir que os próximos 10 anos sejam igualmente transformadores”.

Celebrar os 10 anos de Óbidos como Cidade Criativa da Literatura da UNESCO “é celebrar a identidade de um território que encontrou na palavra escrita o seu motor de desenvolvimento”, afirmou, por seu turno, Ricardo Duque, vereador com o pelouro da Cultura na autarquia obidense e responsável pela coordenação política da nova estratégia. “Há uma década, este reconhecimento internacional projetou Óbidos para o mundo mas, mais do que isso, devolveu-nos a consciência de que a Literatura podia ser, verdadeiramente, uma força transformadora, capaz de criar laços, gerar conhecimento, inspirar criação artística e fortalecer a coesão social”.

O plano estratégico ontem apresentado estabelece a visão para a próxima década. “Um plano ambicioso, rigoroso e construído com a participação de agentes culturais, escolas, universidades, parceiros internacionais, comunidade local. Um plano que assenta em quatro eixos estruturantes que, em conjunto, formam a estratégia que irá guiar Óbidos até 2035”.

“Óbidos quer continuar a ser uma terra que lê, que cria, que pensa e que inspira. Uma terra que honra o seu passado, mas que não tem receio de construir o seu futuro. Celebramos 10 anos, mas abrimos hoje a porta a muitos mais. Uma década que queremos mais inovadora, mais participativa, mais sustentável e ainda mais literária”, concluiu Ricardo Duque.

Os quatro eixos

O “Plano de Desenvolvimento Estratégico Óbidos Cidade Criativa da Literatura da UNESCO 2025 – 2035” propõe ações alinhadas com os quatro eixos estratégicos: Rede Literária, Programação, Formação de Públicos e Cooperação Internacional. Através deste modelo, o Município reforçará a aposta na qualificação de infraestruturas culturais, inovação artística, mediação educativa, e expansão de parcerias globais, em conformidade com os princípios e objetivos da UNESCO.

Entre os objetivos estratégicos está o reforço da infraestrutura cultural literária e dos espaços de criação, a expansão da programação literária ao longo do ano, a promoção de iniciativas tendentes à formação de públicos e competências criativas desde a infância, o reforço das parcerias internacionais com cidades criativas e redes culturais, o desenvolvimento de modelos de gestão e ainda o financiamento que garantam a continuidade dos projetos.

Posicionar Óbidos como destino de referência em turismo cultural e literário e melhorar a infraestrutura cultural, digital e de acessibilidade, são outros dos objetivos preconizados por esta estratégia.

De acrescentar que do programa comemorativo fez também ontem parte a inauguração do monumento evocativo “Óbidos: Dez Anos a Celebrar a Palavra”, e um momento de poesia, pelo ator Pedro Lamares. João Amorim, Sara Carreto e Constança Valério, alunos do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, protagonizaram um momento único de leitura expressiva.

As celebrações prosseguem até dia 13 de dezembro, com várias oficinas orientadas para alunos e famílias em geral.

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